Segundo
a Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde 1980, 1.543
trabalhadores rurais foram assassinados no Brasil. De janeiro
a novembro de 2001, foram 23 assassinatos. O estado do Pará
ocupa o primeiro lugar em assassinatos de trabalhadores rurais,
com 766 casos desde 1980. O caso de maior visibilidade foi
o massacre de Eldorado dos Carajás.
Uma
nova data está sendo aguardada para o julgamento dos
policiais acusados pelo assassinato de 19 trabalhadores rurais
sem terra em Eldorado dos Carajás, em 1996. A juíza
Eva do Amaral Coelho nomeada depois que outros 17 juízes
não aceitaram presidir o julgamento por terem simpatia
aos policiais envolvidos e aversão ao MST e aos trabalhadores
rurais marcou nova data: 18 de junho de 2001. Porém,
o julgamento foi adiado quando a principal prova da
acusação um minucioso parecer técnico
da Unicamp foi retirada do processo. A principal recomendação
das organizações de direitos humanos é
a transferência do processo para a justiça federal.
O
Massacre de Eldorado dos Carajás
Pesquisa:
Sandra Carvalho*
Dados e Fontes de Pesquisa: MST Pará;
CPT - Comissão Pastoral da Terra;
"A Luta Contra a Impunidade do Massacre de Eldorado de
Carajas",
Carlos Guedes, advogado da Comissão Pastoral da Terra
"Massacre de Eldorado dos Carajás:
Em Disussão o Maior Julgamento da História do
Brasil",
Caros Amigos Especial. Número 5 - Novembro de 1999
Altamiro
Ricardo da Silva recebeu dois tiros na cabeça e um
na perna. Antônio Costa Dias, um tiro no tórax.
Raimundo Lopes Pereira foi vitimado com três tiros:
dois na cabeça e um no peito. Leonardo Batista de Almeida
foi atingido por uma bala na testa. Graciano Olímpio
de Souza, dois tiros, sendo um na nuca e outro no Graciano
Olímpio de Souza, dois tiros, sendo um na nuca e outro
no peito. A necropsia no corpo de José Ribamar Alves
de Souza mostrou que ele recebeu dois tiros e um deles, na
cabeça, foi à queima-roupa. Ao atirarem em Manoel
Gomes de Souza, os autores queriam matar o rapaz. A prova
são os três tiros disparados que atingiram a
testa e o abdômen, regiões altamente letais.
Lourival da Costa Santana foi atingido no coração.
Antônio Alves da Cruz levou um tiro no peito e teve
ferimentos com arma branca. O laudo apontou como causa morte
uma hemorragia interna e externa com explosão do coração
e do pulmão esquerdo por instrumento corto contundente.
Abílio Alves Rabelo morreu com três tiros, dois
no pescoço e um na coxa direita. João Carneiro
da Silva teve morte por esmagamento do crânio, indicando
Ter sido ele vítima de extrema violência e crueldade.
Ao prestar depoimento, Luiz Wanderley Ribeiro da Silva revelou
que viu um policial militar atacar João Carneiro com
um pau, que foi introduzido na cabeça da vítima,
partindo-a e expondo os seus miolos. Antonio, conhecido apenas
como "Irmão", morreu com um tiro na nuca.
João Alves da Silva levou dois tiros: um na cabeça,
por trás, e um na canela direita. A trajetória
do projétil que o atingiu na região temporal
fez um percurso de cima para baixo e de trás para diante,
indicando Ter sido ele alvejado quando se encontrava no chão.
Robson Vitor Sobrinho levou quatro tiros dois pelas
costas e à queima-roupa, na altura do tórax,
um no braço e outro no rosto enquanto estava
no chão. Amâncio Rodrigues dos Santos recebeu
três tiros, sendo um na cabeça, um na parte pélvica
e um na região axilar. Valdemir Pereira da Silva levou
um tiro no peito. Dois tiros atingiram o peito e um a região
axilar direita de Joaquim Pereira Veras. A trajetória
de entrada do projétil na axila mostra que a vítima
encontrava-se num plano inferior ao agente que disparava a
arma de fogo. João Rodrigues Araújo foi atingido
por um tiro no braço direito e morreu devido a hemorragia
pelo seccionamento da artéria femural esquerda pelo
uso de arma branca.
Esses
19 homens foram assassinados na tarde de 17 de abril de 1996,
em Eldorado dos Carajás, Pará. Seus algozes
foram 155 policiais, divididos em dois grupos. O primeiro,
saído de Paraupebas e comandado pelo major José
Maria Pereira de Oliveira, era composto por 69 homens armados
com 2 metralhadoras 9 mm, 1 revólver calibre 38, 10
revólveres calibre 32 e 38 fuzis calibre 7,62. Ocuparam
uma das extremidades do Km 96 da Rodovia PA-150.
A
outra tropa veio de Marabá. Era comandada pelo coronel
Pantoja, comandante da operação, e tomou conta
do outro lado da estrada. Seus 85 policiais militares estavam
armados com 8 submetralhadoras 9 mm, 6 revólveres calibre
38, 1 revólver calibre 32, 28 fuzis calibre 7,62, 29
bastões e 14 escudos.
Os
19 mortos eram integrantes da "Caminhada pela Reforma
Agrária", iniciada no dia 10 de abril por 1.500
famílias de trabalhadores rurais sem terra. Um dia
antes do massacre, por volta das 15h, essas famílias
montaram um acampamento no Km 96 da PA-150, na denominada
"Curva do S", próxima à cidade de
Eldorado dos Carajás. Os trabalhadores interditaram
a estrada e exigiam alimentos e transporte, em negociação
com a Polícia Militar, que acompanhava a marcha.
Naquele
momento, a tropa do 4º Batalhão de Polícia
Militar, em Marabá, estava pronta para realizar a desobstrução
da rodovia. Por volta das 20h, a operação foi
cancelada em um acordo entre integrantes do Movimentos dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Polícia Militar.
O major José Maria Pereira de Olivera, comandante da
10ª CIPM/1ª CIPOMA, que negociava com o MST, garantiu
que as reivindicações dos trabalhadores seriam
levadas às autoridades competentes nos âmbitos
federal e estadual. No dia seguinte, data do massacre, às
11h, o tenente da PM Jorge Nazaré Araújo dos
Santos informou que as negociações estavam encerradas
e que nenhuma das reivindicações seriam atendidas,
nem mesmo a doação de alimentos.
Enquanto
isso, na capital, o governador do Estado, Almir Gabriel, ordenou
ao secretário de Segurança, Paulo Sette Câmara,
ao superintendente estadual do Incra, Walter Cardoso, e ao
presidente do Instituto de Terras do Pará (Iterpa),
Ronaldo Barata, a desobstrução do Km 96 da PA-150.
A
Polícia Militar iniciou a ação jogando
bombas de gás lacrimogêneo contra os trabalhadores
e disparando tiros para o alto. Em seguida, a PM começou
a disparar rajadas de metralhadora. Os integrantes do MST
se defenderam arremessando paus, pedras, foices, terçados
e disparando alguns tiros de um revólver. Além
dos 19 trabalhadores mortos, a ação da PM resultou
em 81 pessoas feridas, sendo 69 sem terra e 12 policiais militares.
A
história do assassinato deste 19 homens tem ligação
direta com uma tentativa anterior e em vão de negociação
do MST com o governo do Pará.
No
dia 5 de março de 1996, 3.500 famílias de sem
terra, acampadas à beira da rodovia entre Marabá
e Paraupebas, decidiram ocupar a fazenda Macaxeira e iniciaram
negociações com o Incra.
No
dia seguinte, por meio do presidente do Iterpa, o governo
do Pará comprometeu-se a fazer gestão junto
ao Incra pelo assentamento dessas famílias. O governo
comprometeu-se a enviar 12 toneladas de alimentos e 70 caixas
de remédios ao acampamento. O prazo limite para a obtenção
dessa área era de 30 dias, começando em 7 de
março de 1996.
Alimentos
e remédios prometidos não foram enviados. No
mesmo mês, em Belém, a Federação
dos Fazendeiros fez uma reunião com o governador e
o secretário da Segurança. A Federação
levou diversos presidentes dos sindicatos dos fazendeiros
da região de Marabá para exigir maior repressão
ao MST e entregou uma lista de 19 pessoas que deveriam desaparecer
para que a paz voltasse à região. Constavam
na lista os principais líderes do MST.
Depois
de 30 dias desde a ocupação, o governo não
havia cumprido suas promessas. Os trabalhadores resolveram,
em assembléia, seguir em marcha até Belém,
a 800 km de Marabá, com o objetivo de sensibilizar
o governo.
O
contexto do conflito
O
Estado do Pará está localizado ao Norte do Brasil.
Possui uma área de 1.248.042 quilômetros quadrados,
com uma população de 3.468.700 habitantes. A
região de Marabá é a porta de entrada
das terras da Amazônia. É lá que desembocam
a ferrovia Carajás e as estradas que sobem de Tocantins
(Belém-Brasília) e vêm de Imperatriz,
rumo à Transamazônica. É o desaguadouro
de milhares de camponeses em busca de terra. Há ainda
os contingentes atraídos no passado pela ilusão
do garimpo ou de algum emprego na Cia. Vale do Rio Doce, que
domina a exploração de minério. Milhões
de hectares de terra desta região foram grilados, antes
para a exploração de madeira e agora para algumas
pastagens próximas às rodovias.
A
região sul do Estado do Pará caracteriza-se
pela presença de grandes grupos financeiros e industriais
Volkswagem, Liquigás, Banco Real e BCN, entre
outros, que, beneficiados pela redução de impostos
de até 50% sob a condição de investir
2/3 na agricultura, abocanharam grandes extensões de
terras, impedindo o desenvolvimento, já que a propriedade
fundiária fora adquirida apenas para a especulação
imobiliária.
Ao
mesmo tempo, a abertura da Mina de Carajás (a maior
mina de ferro do mundo) e da estrada de ferro estimulou o
crescimento rápido das cidades da região. Mas
estas cidades continuaram pobres e sem infra-estrutura para
suportar o crescimento populacional. O resultado são
os altos índices de desemprego, marginalização,
pobreza e exclusão social dos habitantes da região.
A
tensão social provocada pela concentração
injusta de terras, aliada à omissão do Governo
Federal no equacionamento desta desigualdade, a proteção
aos latifundiários e a reinante impunidade faz com
que nesta área os conflitos fundiários sejam
graves e constantes e o emprego da violência por parte
dos fazendeiros seja um meio natural para a solução
destes conflitos.
Os
números da violência
Segundo
a Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde 1980, 1.543
trabalhadores rurais foram assassinados no Brasil. De janeiro
a novembro de 2001, foram 23 assassinatos. O estado do Pará
ocupa o primeiro lugar em assassinatos de trabalhadores rurais,
com 766 casos desde 1980.
Também
é grande o número de prisões arbitrárias.
Somente este ano, 22 militantes do MST foram presos no Pará,
sendo que 16 deles estavam na desocupação pacífica
da fazenda Chão de Estrelas, em Aurora do Pará,
em junho passado. A fazenda pertence ao senador e presidente
"licenciado" do Congresso Nacional, Jader Barbalho.
A
violência contra trabalhadores rurais no Pará
tem aumentado durante o mandato do Presidente Fernando Henrique
Cardoso. Aproximadamente 15% dos assassinatos ocorreram em
situações classificadas como massacres ou chacinas,
verificando-se a participação regular de policiais
militares. Em todos os casos de homicídio, a perseguição
é dirigida contra líderes camponeses, sindicalistas,
padres e outros religiosos. A perseguição é
praticada por pistoleiros, integrantes da Polícia Militar
ou colaboradores da corporação. A impunidade
é comum nos conflitos fundiários. Normalmente,
as provas são rapidamente ocultadas, as buscas de provas
emperradas, os processos podem durar anos e os culpados desaparecem.
Os
laudos periciais
O
médico legista Nelson Massini, indicado para o caso
pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal,
chegou ao Pará 48 horas após o massacre e foi
tratado com indiferença pelos peritos e médicos
legistas locais. "Os corpos já haviam sido liberados
da autópsia. Foi quando o professor Paulo Sérgio
Pinheiro, que estava comigo, me alertou que a perícia
poderia ter sido direcionada. Não queriam reabrir os
caixões. O Paulo Sérgio teve de telefonar ao
ministro Jobim para que esse, em seguida, ligasse ao Instituto
Médico Legal emanando ordens expressas de se abrir
os caixões. Os corpos já exalavam, estavam putrificando.
Sentei com os médicos locais e apontei algumas observações
que deveriam passar a constar dos laudos." Massini atesta
sobre o que viu e periciou: "Foi um massacre típico,
com uso de força desnecessária, imobilização
das vítimas, seguida de execução sumária.
Os que fugiram eram recapturados para serem liquidados. Não
nos interessa se um sem-terra atirou a primeira pedra ou não,
porque ninguém morreu ali de pedrada. Os sem-terra
não morreram em confronto, morreram subjugados e imobilizados
nas mãos da Polícia Militar."
Os
laudos periciais emitidos pelo Instituto Médico Legal
(IML) do Pará demonstram também que os trabalhadores
rurais foram vítimas de um massacre, pois sofreram
várias lesões pelo corpo, provocadas por projéteis
de armas de fogo e por instrumentos cortantes, como facas
e foices. O parecer conclui que as vítimas foram dominadas
e, em seguida, executadas: "As mortes dos integrantes
do MST não resultaram do confronto. A perícia
técnica, robustecida pela prova testemunhal, autoriza
a constatação de uma desmedida e injustificável
execução sumária revelada por tiros de
precisão, inclusive à queima-roupa, por corpos
retalhados a golpes de instrumentos cortantes, inclusive com
esmagamento de crânio e mutilações que
evidenciam o animus necandi (vontade de matar)
dos executores da ação criminosa".
Datado
de junho de 1996, e a pedido do secretário de Segurança
Pública do Pará, Paulo Sette Câmara, o
legista Fortunato Antônio Badan Palhares, através
do Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp), faz um contralaudo dedutivo. Apesar
de uma lista qualificações desfiadas pelo próprio
em seu currículo, Badan Palhares, nas palavras de especialista,
cometeu uma heresia ao organizar um contralaudo dedutivo e
não indutivo.
As
imagens em vídeo
No
dia 14 de setembro de 2000, o Laboratório de Fonética
Forense e Processamento de Imagens da UNICAMP concluiu a perícia
da única fita de vídeo gravada com cenas do
Massacre de Eldorado dos Carajás. Os peritos Ricardo
Molina de Figueiredo e Donato Pasqual Júnior conseguiram
desdobrar cada segundo da fita em 33 cenas. O resultado identifica
cenas impossíveis de se ver em uma exibição
comum e prova que a tese de legítima defesa da PM é
uma farsa.
Ao
contrário do que afirmaram os policiais, os trabalhadores
rurais sem terra não partiram para cima da PM com o
objetivo de atacar a tropa. Logo no começo da fita
vê-se a polícia disparar armas de fogo e lançar
bombas de gás lacrimogêneo, próximo a
um caminhão boiadeiro. Os sem terra fogem em direção
ao acampamento na beira da estrada, desobstruindo a pista.
As imagens revelam ainda um sem terra ferido ao lado da roda
traseira direita do caminhão, antes do início
do embate entre os manifestantes e os policiais. O rapaz ferido
era Amâncio Rodrigues, conhecido como "Surdinho".
Dias depois, o resultado do exame cadavérico realizado
no IML de Marabá atestou que ele morreu vítima
de três tiros.
Uma
das imagens mostra que o batalhão da PM de Marabá
se posiciona entre os sem terra e o agonizante Amâncio.
O grupo avança e arremessa paus e pedras na polícia.
Em seguida, um policial dispara um revólver. Dois segundos
depois um tiro é disparado por um sem terra. Essa sequência
é importantíssima porque derruba a versão
de que os sem terra dispararam primeiro. Depois que os sem
terra rompem o bloqueio da PM e alcançam os companheiros
feridos, a fita registra dezenas de pessoas feridas e muita
gritaria.
O
julgamento
As
suspeitas que pairavam sobre a isenção no julgamento
levou o Ministério Púbico a pedir seu desaforamento
de Curionópolis para Marabá e, posteriormente,
para Belém. Um dos elementos que fundamentou o pedido
de desaforamento foi o fato de que pelo menos 12 dos 21 jurados
pré-selecionados para o julgamento em Marabá
eram fazendeiros ou pessoas ligadas a eles.
O
julgamento foi desdobrado em 27 sessões, com três
a sete acusados em cada uma delas. Duas teses se confrontaram.
A da acusação, de homicídio qualificado,
argumentando que as tropas deslocadas para obstruir a estrada
tinham a intenção de matar, inclusive selecionando
as vítimas entre as lideranças do MST
13 dos 19 assassinados eram líderes locais. A acusação
se apoiava nas provas periciais, apontando que 11 dos sem
terra foram atingidos por tiros na cabeça, 7 foram
atingidos por armas brancas e pelo menos 3 foram executados
com tiros à queima roupa, em um total de 36 perfurações
a bala para 19 vítimas. Além disso, de acordo
com vários depoimentos, as tropas cercaram os manifestantes
pelos dois lados, e perseguiram os que fugiram para o mato.
Outra
tese defendida pela acusação foi a de premeditação
dos homicídios, uma vez que os policias militares agiram
sem identificação para encobrir a autoria dos
tiros e que as cautelas (ou registros das armas nos quartéis)
sumiram e reapareceram adulteradas meses depois.
A
defesa argumentou que havia uma "guerra" entre os
sem terra e os policiais. Apesar da discrepância absoluta
no número de vítimas, a defesa alegou negativa
de autoria e afirmativa de que a acusação não
conseguiu reunir provas suficientes para convencer os jurados
da responsabilidade individual dos réus.
Durante
três dias de sessão, o juiz Ronaldo Valle sistematicamente
cerceou os poderes da acusação, impedindo a
utilização em plenário de documentos
juntados no prazo legal, permitindo manifestações
públicas de jurados criticando a tese da acusação
e defendendo pontos de vista apresentados pela defesa, além
de permitir à defesa críticas grosseiras ao
promotor de justiça. Por fim, o juiz Ronaldo Valle
manipulou o resultado da votação do Conselho
de Sentença, obtendo assim a absolvição
dos réus pelo placar de quatro votos a três.
Com
a pronta atuação do Promotor, dos assistentes
de acusação, do MST e de entidades de defesa
dos direitos humanos, os julgamentos dos demais 152 réus
foram imediatamente suspensos. Os meios ilegais que o juiz
Ronaldo Valle utilizou para obter a absolvição
dos réus foram tão óbvios que o Tribunal
de Justiça do Pará determinou a anulação
do julgamento em abril de 2000, decisão mantida em
um segundo julgamento em outubro de 2000.
O
juiz Ronaldo Valle solicitou o afastamento do caso, o que
acorreu em abril de 2000. Durante o processo de substituição
do juiz, dos 18 juizes criminais da Comarca de Belém,
17 informaram ao Presidente do Tribunal de Justiça
que não aceitariam presidir o
julgamento
por terem simpatia aos policiais acusados e aversão
ao MST e aos trabalhadores rurais. Em abril de 2001, foi nomeada
a juiza Eva do Amaral Coelho, que em junho de 2000 havia se
recusado a presidir o julgamento do fazendeiro Jerônimo
Alves do Amorim, acusado do assassinato de Expedito Ribeiro
de Souza, Presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais
de Rio Maria.
A
juíza Eva do Amaral Coelho designou o dia 18 de junho
de 2001 como data para o novo julgamento dos três oficiais
absolvidos em agosto de 1999. Contudo, alguns dias antes do
início da sessão, a juíza Eva do Amaral
Coelho determinou a retirada do processo da principal prova
da acusação: o minucioso parecer técnico
da Unicamp, subscrito pelo Prof. Ricardo Molina. O Promotor
de justiça, os assistentes de acusação
e entidades de direitos humanos protestaram contra essa decisão
e, em pouco mais de 48 horas, conseguiram convencer a juíza
a rever sua posição. O julgamento foi suspenso,
mas até o momento a juíza não apresentou
uma nova data.
Recomendações
A
principal recomendação das organizações
de direitos humanos em relação ao julgamento
do massacre de Eldorado dos Carajás é a transferência
do processo para a justiça federal. Essa recomendação
se baseia na proposta de Emenda Constitucional 386, que propõe
a federalização dos crimes contra os direitos
humanos. Segundo parecer da Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados: "Federalizar a competência
do julgamento das práticas contrárias aos direitos
humanos é a evidência da busca do aperfeiçoamento
das instituições responsáveis pelo exercício
da democracia e pela compatibilização do direito
interno com os compromissos internacionais que aproximam a
humanidade no caminho da paz."
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Sandra Carvalho, pesquisadora da Justiça Global
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