A rigor, nunca houve uma política de reforma agrária
no Brasil. No entanto, os problemas no campo se avolumam.
As lutas continuam árduas e diversificadas, envolvendo
ocupações, acampamentos, trabalho escravo, despejos,
destruição de bens, desrespeito à legislação
trabalhista, questões sindicais e de política
agrícola, saques, bloqueios de rodovias, garimpos.
Os números relativos à última década
são expressivos: 7.126 conflitos, 5.642.265 pessoas,
32.236.653 há.
A
dinâmica da Reforma Agrária no Brasil
Mônica Dias Martins
Quando eu morrer
Cansado
de guerra
Morro de bem
Com a minha terra:
Cana, caqui,
Inhame, abóbora
Onde só vento se semeava outrora
Amplidão, nação, sertão sem fim.
(Assentamento, 1997)
Em
maio de 1997, esta canção de Chico Buarque,
as fotografias de Sebastião Salgado e o livro de José
Saramago foram doados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais
sem Terra (MST) e vendidos em eventos culturais promovidos,
simultaneamente, em vários países. Um reconhecimento
dos artistas ao combativo movimento popular que, desde 1979,
desenvolve com sucesso uma eficiente estratégia para
pressionar o governo: a ocupação massiva e continuada
de latifúndios. Segundo o Estatuto da Terra, promulgado
em 1964, a propriedade privada deve ser desapropriada quando
não cumpre sua função social. Esta ação
direta do MST, além de obrigar ao cumprimento do preceito
legal, tem se mostrado igualmente efetiva para denunciar a
concentração fundiária no Brasil, a segunda
maior do mundo.
Um
traço marcante na formação da sociedade
brasileira é o monopólio da posse e uso da terra,
usualmente obtida mediante atos de violência. Conflitos
e rebeliões, que, por vezes, assumiram a dimensão
de guerras camponesas, a exemplo de Canudos na
Bahia e Contestado em Santa Catarina, não constituem
fatos excepcionais na história do país. A exarcebada
concentração da terra está associada
a graves problemas: a pobreza e a fome de grandes contingentes,
a crescente desigualdade social e regional, a dominação
política que desqualifica o trabalhador enquanto cidadão,
o êxodo acentuado para os centros urbanos, o desemprego
e o subemprego que, não raro, levam à marginalidade,
o permanente clima de insegurança, a degradação
do meio ambiente
A
trajetória
As
profundas mudanças ocorridas a partir da segunda metade
do século XX conviveram com o quadro fundiário
herdado do período colonial. Apesar das reiteradas
e entusiásticas afirmações do atual presidente
sobre a face moderna do Brasil, inclusive do mundo rural,
após oito anos de seu governo, constata-se a cumplicidade
com o latifúndio. Sua persistência evidencia
as enormes dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora
para concretizar a sonhada reforma agrária, luta que,
a julgar pelo pensamento dominante, estaria ultrapassada.
Para
alguns, outrora defensores da reforma agrária, o Brasil
teria perdido a oportunidade de realizá-la, nos anos
sessenta, época em que muitos governos promoveram ações
visando distribuir terras. Para outros, entretanto, apesar
do desenvolvimento das forças produtivas, impõe-se
uma reforma agrária que democratize o acesso à
terra e as relações políticas, assegurando
a conservação ambiental, a produção
de alimentos, a geração de empregos, a distribuição
de renda.
É
evidente que, considerando as características multifacetárias
da agricultura brasileira, a reforma agrária terá
um alcance parcial; a não ser que um projeto alternativo
de sociedade se afirme. Embora sendo um componente vital na
construção deste projeto, a reforma agrária
vincula-se a um conjunto de questões, a exemplo da
proteção da biodiversidade, dos territórios
étnicos, da igualdade de gênero, do desenvolvimento
regional, da identidade nacional. Sua implementação
repousa basicamente na capacidade de articulação
político-ideológica dos trabalhadores do campo
e da cidade para agir conjuntamente e estabecer alianças.
As
políticas agrícolas e agrárias, via de
regra, beneficiaram com isenções e subsídios
a proprietários e grupos econômicos, quer modernos
quer tradicionais, dos setores pecuarista, agroindustrial,
exportador, financeiro, sejam eles nacionais ou estrangeiros.
As soluções do Estado pouco variaram:
titulação de terras públicas, arrecadação
de áreas devolutas, tributação de propriedades
improdutivas, regulamentação de contratos agrários
e trabalhistas, compra e venda de terras, colonização
oficial e privada, desapropriação por interesse
social e assentamento.
Tais
medidas, limitadas e fortuitas, não alteraram a dinâmica
concentracionista, as relações sociais de produção
e a correlação de forças políticas,
em favor da classe trabalhadora. Em 1995, dos 4.838.183 estabelecimentos
rurais, 1% eram maiores de 1.000 há., ocupando 45%
da área total; enquanto, os menores de 10 há.
representavam 50% e detinham apenas 2% da área (IBGE,
1995/6). Em 1985, quando os dados eram, respectivamente, 0,8%
e 42% para a grande propriedade e 53% e 3% para os pequenos
estabelecimentos, o hoje Ministro Miguel Reale Júnior
argumentaria ser esta estrutura normal e em perfeita
coerência com o sistema econômico-social
e a ideologia neoliberal vigentes no país (Revista
A Rural, dezembro de 1985).
A
rigor, nunca houve uma política de reforma agrária
no Brasil. No entanto, os problemas no campo se avolumam.
As lutas continuam árduas e diversificadas, envolvendo
ocupações, acampamentos, trabalho escravo, despejos,
destruição de bens, desrespeito à legislação
trabalhista, questões sindicais e de política
agrícola, saques, bloqueios de rodovias, garimpos.
Os números relativos à última década
são expressivos: 7.126 conflitos, 5.642.265 pessoas,
32.236.653 há. (CPT, 2002).
Neste
sentido, pode-se falar da reforma agrária como um movimento
real, no qual as classes sociais são as forças
vivas que impulsionam este processo contraditório de
transformação das estruturas de produção
e poder. A reforma agrária não se reduz a aspectos
meramente formais (políticas e preceitos constitucionais)
ou técnico-burocráticos (metas e recursos).
Seja ela rotulada de conservadora ou revolucionária,
deve ser considerada no contexto de uma nova proposta, emergindo
das mãos e mentes dos milhares de trabalhadores sem
terra, acampados e assentados. Em última instância,
sua trajetória depende da luta de classes no campo.
No
início dos anos sessenta, as Ligas Camponesas, engajadas
em mobilizações por melhorias salariais e reforma
agrária, na lei ou na marra, são
apresentadas como ameaça às oligarquias e à
burguesia nacional. Os Estados Unidos, através da Aliança
para o Progresso, pressionam os governos latino-americanos
a executar programas de distribuição de terra.
Os interesses do capital estrangeiro, feridos com a revolução
cubana, preocupam-se em evitar rupturas na dominação
exercida no Continente. Na concepção amplamente
aceita, então, a reforma agrária seria um pré-requisito
para o desenvolvimento econômico, a ordem social e a
estabilidade política.
Com
o golpe de 1964, a luta dos setores populares pela reforma
agrária é silenciada, mas a ditadura promulga
o Estatuto da Terra, apesar de reações adversas
de aliados do regime. O conjunto de medidas se propunha a
corrigir distorções do sistema fundiário
(latifúndio e minifúndio) e a formar um moderno
setor agrícola (empresas rurais). A Lei se mostra inócua
quanto à distribuição de terras, dado
o prestígio dos grandes proprietários, o funcionamento
precário do judiciário e legislativo, o estrito
controle dos partidos, sindicatos e imprensa. Não obstante,
a definição de critérios para o cumprimento
da função social da propriedade e de procedimentos
para a desapropriação por interesse social representou
uma base legal para futuras conquistas dos trabalhadores.
Na
década de setenta, para reduzir os crescentes conflitos
no campo, consequência de uma política de modernização
agrícola, parcial e seletiva, os governos militares
implementam medidas de reeestruturação fundiária,
tais como a aquisição, a regularização
e a titulação de terras. Na vigência do
Proterra (1971/85), que nas palavras do general Médici
solucionaria o problema do homem sem terra do Nordeste
e o da terra sem homens da Amazonia, o principal instrumento
é a compra e venda de propriedades. A reforma agrária
foi tratada como uma questão de segurança nacional,
estratégica para controlar as tensões sociais
e criar uma classe média rural.
A
campanha por eleições diretas, embora frustrada
pelos acordos políticos para o retorno do Estado de
Direito, deixa importante saldo; um deles é a organização
da Campanha Nacional pela Reforma Agrária. Nas cidades,
as organizações sindicais, estudantis, de bairros
e de mulheres reinvindicam a reforma agrária, associando-a
à solução dos problemas urbanos de desemprego,
falta de moradia, carestia, baixos salários... No campo,
cresce a ofensiva do MST que realiza inúmeras ocupações
em todo o país. Ressurge o debate sobre a reforma agrária,
considerada como um componente indispensável à
cidadania e à democracia, unificando as lutas dos trabalhadores
urbanos e rurais.
Para
proteger os interesses do empresariado rural, exigir uma verdadeira
política agrícola e mobilizar-se contra as invasões
de suas propriedades, é criada a União Democrática
Ruralista (UDR). A polarização em torno de onde
e como fazer a reforma agrária, particularmente durante
a elaboração do Plano Nacional de Reforma Agrária
(Pnra) e da Constituição de 1988, levou ao surgimento
de duas propostas que expressam o confronto capital-trabalho.
Estas divergem quanto a: obtenção e pagamento
da propriedade, apropriação e uso da terra,
implantação e administração das
unidades produtivas.
A
proposta das organizações patronais (UDR, Confederação
Nacional da Aagricultura, Sociedade Rural Brasileira, Organização
das Cooperativas do Brasil) defende os interesses individuais,
a propriedade privada, o parcelamento da terra, os projetos
de colonização e a integração
das unidades familiares ao setor agroindustrial. A proposta
dos trabalhadores (MST, Confederação dos Trabalhadores
na Agricultura, Comissão Pastoral da Terra, Associação
Brasileira de Reforma Agrária, Central Única
dos Trabalhadores, entre outras) é baseada em relações
de cooperação entre os trabalhadores diretos,
formas alternativas de propriedade, organização
do trabalho e distribuição dos produtos, processos
democráticos de gestão do assentamento.
No
governo da Nova República, em decorrência da
forte pressão das entidades sindicais e dos movimentos
de trabalhadores rurais, o Pnra prioriza as desapropriações
por interesse social e a política de assentamento,
Conquistas importantes foram alcançadas, a exemplo
do Procera e de convênios de assistência técnica
e capacitação, como o Lumiar. Entretanto, os
resultados foram insuficientes: os assentamentos, em sua maioria,
localizados em terras de baixa qualidade e distantes do mercado,
não constituiram um setor reformado. A suposta alocação
de recursos técnicos e financeiros das instâncias
federal, estadual e municipal não ocorreu, limitando
a viabilização de uma base produtiva sólida,
a melhoria da renda e da qualidade de vida das famílias.
Em
1995, o governo do Ceará acata a proposta de reforma
agrária de mercado do Banco Mundial, denominada
de reforma agrária solidária. O
acordo, mediado pela administração federal,
visa incentivar os agricultores a negociarem a terra com os
proprietários. Associações e sindicatos
são envolvidos para garantir o pagamento do débito
contraído por seus membros. A experiência é
ampliada para outros estados nordestinos, através do
programa Cédula da Terra, objeto de numerosas denúncias
e críticas. Nos anos seguintes, o presidente Fernando
Henrique Cardoso cria o Banco da Terra e o Crédito
Fundiário e de Combate à Pobreza, em âmbito
nacional, prosseguindo em seu propósito, e das instituições
internacionais, de estimular o mercado de terrras e isolar
os movimentos que lutam pela reforma agrária.
As proposições
Após
um período de acanhado debate político e tímidas
manifestações frente à orientação
da economia nacional, à supressão dos direitos
trabalhistas e aos cortes nos benefícios sociais, tem
início, em 1997, uma ampla consulta popular para discutir
alternativas de desenvolvimento para o país. As marchas
contra o neoliberalismo, como ficaram conhecidas, incentivam
a elaboração de um projeto que englobasse as
demandas da população e as idéias de
pensadores brasileiros, tais como Caio Prado Júnior,
Florestan Fernandes, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Milton
Santos.
Os
movimentos, organizações e personalidades engajadas
na luta pela reforma agrária firmaram numerosas proposições
vinculadas, via de regra, a mudanças profundas na dinâmica
sócio-política nacional. Tais propostas não
constituem um programa executivo que contemple as múltiplas
e complexas alterações necessárias na
economia e na sociedade. Isto seria, obviamente, tarefa para
uma administração pública.
As
várias correntes que se contrapõem à
orientação governamental têm pontos de
vista em comum. Malgrado as diferenças funcionais,
organizativas e operacionais das entidades, as recomendações
relevantes são sustentadas conjuntamente. Tal procedimento
se reflete em acontecimentos como o Fórum Nacional
pela Reforma Agrária e Justiça no Campo.
Entre as forças que se batem pela reforma agrária,
o MST é a que mais tem se destacado. O modo peculiar
que adota para mobilizar os trabalhadores rurais, ocupar a
terra, organizar o assentamento em base a relações
solidárias, formar a militância e comunicar suas
idéias merece atenção especial. As proposições
refletem, sobretudo, a experiência e a perspectiva do
MST, endossadas de forma parcial ou integral pelos diversos
atores interessados na reforma agrária.
A
reforma agrária deve garantir o acesso à terra
de qualidade aos agricultores. Constitui a forma mais viável
e democrática de assegurar trabalho e alimento aos
brasileiros. A um só tempo, ela é o caminho
duradouro, rápido e barato para aumentar a produção,
gerar emprego a custos inferiores ao da indústria,
distribuir a renda, conter a migração para as
cidades e eliminar a pobreza de grandes contingentes populacionais,
além de contribuir para transformar as relações
políticas no meio rural, propiciando aos trabalhadores
do campo os direitos de cidadão.
O
desencadeamento de ações efetivas de reforma
agrária requer um maior conhecimento da dinâmica
da propriedade da terra no Brasil, tanto em termos históricos
como das diferentes configurações regionais.
Neste estudo não basta dispor de estatísticas
sobre a concentração fundiária, pois
os institutos oficiais definem as categorias e estabelecem
critérios de classificação conforme seus
interesses. Para melhor interpretar os dados, é imprescindível
ter um acompanhamento pormenorizado do mercado de terras,
em todo o território nacional, resguardando as especificidades
locais. É da maior importância averiguar como
vem ocorrendo os conflitos no campo: os atores envolvidos,
as formas de violência, os aparelhos de segurança
pública e privada, o desempenho do judiciário...
A
democratização da propriedade fundiária
passa, obrigatoriamente, pela penalização dos
latifúndios que não cumprem sua função
social. Urge fazer o levantamento das terras públicas
e das empresas estatais, identificar os maiores proprietários
rurais, nacionais e estrangeiros, e limitar legalmente a extensão
da propriedade fundiária. O Imposto Territorial Rural
(ITR) precisa ser efetivamente aplicado para inibir a especulação
imobiliária. Os recursos obtidos com sua cobrança
seriam suficientes para executar amplos programas de desapropriação
e assentamento, bem como financiar ações complementares
de crédito, capacitação, pesquisa e extensão,
abastecimento, comercialização, saúde
e educação. Para gerir estes recursos e outros
oriundos do orçamento da União deve ser criado
um Fundo Nacional de Reforma Agrária.
A
reforma agrária não pode basear-se na prática
da compra e venda da terra ou da regularização
fundiária. Também não se resume ao parcelamento
da terra em lotes individuais para integrar mais agricultores
ao sistema agroindustrial. Uma tarefa urgente é a divulgação
ampla dos resultados das pesquisas sobre a reforma agrária
de mercado. Ao mesmo tempo, deve-se prosseguir com os
estudos acerca das experiências nos assentamento em
seus múltiplos aspectos: organização
da produção, conservação do meio
ambiente, escoamento de produtos, relações solidárias,
qualidade de vida e repercussões no município.
É necessário apoiar os sistemas alternativos
de propriedade e uso da terra, a exemplo dos condominiais
e dos comunitários, bem como formas legais para sua
titulação, posto que já existem assentamentos
que adotam estes sistemas. O patrimônio familiar deve
ser respeitado e assegurado sua transmissão às
futuras gerações.
A
agricultura brasileira deve fundamentar-se, primeiramente,
na produção de alimentos para o mercado interno.
Porisso, as unidades familiares devem ser subsidiadas, através
do crédito de investimento e custeio e do seguro agrícola.
Ao governo compete, ainda, garantir os preços para
os alimentos básicos em benefício de produtores
e consumidores de baixa renda. É preciso estabelecer
mecanismos de segurança alimentar e proteger os produtores
brasileiros da competição internacional. Cumpre
ao governo formular programas para restaurar ou estabelecer
tanto os sistemas de armazenamento e comercialização
como os serviços de pesquisa e assistência técnica.
O que exige o acompanhamento da absorção de
tecnologia pela agricultura, em particular pela massa de pequenos
estabelecimentos, bem como o conhecimento e a propagação
de práticas de agroecologia.
A
unidade familiar só terá possibilidade de resistir
e progredir através da cooperação agrícola
entre os produtores diretos e da gestão conjunta dos
meios de produção. É necessário
desenvolver uma concepção de cooperativa que
se amolde à realidade de cada assentamento ou comunidade
de produtores e enseje a participação de mulheres
e jovens nas decisões sobre o processo produtivo. Mesmo
organizando a produção com base em uma divisão
social do trabalho que incorpore as atividades agro-industriais,
a cooperativa precisa ter como objetivo a socialização
dos benefícios. E enlarguecer a noção
de trabalhador rural de modo a abranger todos
os que se vinculam à produção e cuja
atuação favoreça a comunidade. Cabe observar
o comportamento do mercado de trabalho rural: a oferta de
oportunidades de emprego, os salários e os tipos de
contrato, o cumprimento da legislação trabalhista,
a qualificação da mão-de-obra.
A
reforma agrária deve fazer parte do esforço
de conservação ambiental, permitindo a ocupação
racional dos solos, o manejo adequado das matas e o uso de
técnicas apropriadas aos diferentes ecossistemas. É
indispensável monitorar os recursos hídricos,
assim como democratizar o acesso aos mesmos. O modelo de exploração
agrícola vigente nos modernos empreendimentos agropecuários
agride, necessariamente, a natureza. Torna-se necessário
a pesquisa especializada e a assistência técnica
permanente para que as unidades familiares, respeitando o
meio ambiente, obtenham rentabilidade econômica. Deve-se
verificar as alternativas para a reforma agrária no
semi-árido e demais áreas degradadas pela ocupação
intensiva. Na fronteira agrícola, há tarefas
urgentes como o monitoramento da área de cultivo de
grãos e de pecuária nos cerrados e na Amazônia,
e a preservação das reservas indígenas
e das terras das comunidades rurais negras. O Brasil necessita
de uma legislação sanitária que atenda
as necessidades do conjunto de pequenos produtores.
A
reforma agrária precisa inserir-se num novo modelo
de desenvolvimento para o país, direcionado para o
bem-estar da população e a soberania nacional.
Sua viabilização exige a derrota da atual política
econômica que privilegia os grandes complexos agroindustriais
e aceita a dependência tecnológica. A intervenção
do Banco Mundial na agricultura brasileira necessita ser melhor
conhecida. É imprescindível estudar a capacidade
de controlar a provisão de insumos e o escoamento da
produção detida pela burguesia agrária,
suas vinculações com o sistema financeiro e
a influência que esta exerce sobre os meios de comunicação,
as diversas instâncias políticas e as esferas
administrativas do Estado. A adoção de um projeto
alternativo de sociedade implica na mudança da natureza
do poder no Brasil.
Mônica
Dias Martins é pesquisadora da Rede de Ação
e Pesquisa sobre a Terra e da Rede Social de Justiça
e Direitos Humanos
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