A Campanha contra a Violência no Campo, no marco dos seus 2 anos de existência, vem
por meio desta nota, manifestar a preocupação e chamar atenção das autoridades
governamentais, do judiciário e da sociedade para a realidade dos conflitos agrários,
contra os povos dos territórios, das águas e das florestas.
No mês de julho, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) publicou o relatório da
Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, apontando o crescimento na violência em
2023. Foram 276 casos de invasões, em 202 territórios de 22 estados. 1.276 casos de
violência contra o patrimônio dos povos, dentre elas casas de reza, símbolos da
religiosidade e soberania. Nesse mesmo mês, houve uma escalada de violência contra
os povos indígenas em mais de 10 comunidades dos estados do Paraná, Rio Grande do
Sul, Mato Grosso do Sul, Ceará e Pará.
Em abril, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) publicou o relatório de Conflitos no Campo,
apontando o ano de 2023 com o maior índice de conflitos no campo nos últimos 10 anos,
com 2.203 ocorrências. Mais de 70% dessas ocorrências são por questão da terra. Na
mesma linha da violência no campo se destaca o trabalho escravo rural, do qual 2.663
foram resgatadas em 2023, ocupando a primeira posição nos últimos 10 anos.
Os dados apresentados pelas organizações sociais, há mais de 38 anos, mostram que no
centro do conflito no campo está a grilagem, a pistolagem e a impunidade. Nos últimos
anos, os governos que ocuparam o Estado brasileiro incentivaram essa prática. E o
governo atual, apesar dos esforços de alguns setores, ainda não conseguiu estabelecer
políticas que promovam a paz no campo, garanta os territórios dos povos e promova a
dignidade humana e seus modos de vida.
As retomadas e autodemarcação iniciadas pelos povos são sinais de resistência,
sobretudo quando o Estado não garante a terra e a proteção. Os governos, federal e
estadual, em aliança com o capital não condiz com a proteção dos povos originários,
sobretudo os povos indígenas. A maioria de deputados e deputadas, no congresso
nacional, não tem compromisso com a causa dos povos originários e tradicionais do
campo. O movimento “Invasão Zero”, apadrinha da bancada da bala no Congresso,
sustenta a violência no campo brasileiro, sem nenhuma reação da justiça.
Nos últimos acontecimentos, sobretudo no Mato Grosso do Sul, houve negligência do
Estado, por meio da Força de Segurança Nacional e dos Órgãos de competência para
garantir a segurança dos povos e seus territórios. Essa responsabilidade também se dá
pela demora em demarcar os territórios e anteceder as medidas que só chegam após
conflitos estabelecidos.
A negligência do Estado em relação a demarcação dos territórios e a morosidade do
judiciário na decisão da inconstitucionalidade do marco temporal atesta e prolonga a
violência contra povos e comunidades. A campanha contra a violência no campo temalertado para a intensificação e o crescimento da violência contra povos, cujo “existir” é
a única forma de resistência.
As organizações subscritas nesta nota, solicitam atitudes concretas que promovam a paz
no campo, a defesa e promoção dos territórios e seus modos de vida. Chega de sangue
banhando esse chão!
Assinam essa nota:
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA
Movimento dos Atingidos pela Mineração – MAM
Sociedade Maranhense de Direitos Humanos – SMDH
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Movimento Quilombola do Maranhão- MOQUIBOM
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares
- CONTAG
Grupo Tortura Nunca Mais - Bahia
Associação dos Geógrafos Brasileiros, Seção Local de Marechal Cândido Rondon/PR
GEOLUTAS - Laboratório e Grupo de Pesquisa de Geografia das Lutas no Campo e na
Cidade
Serviço Pastoral dos Migrantes-SPM
Centro Palmares de Estudos e Assessoria por Direitos
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia
Instituto Brasil Central - IBRACE
Rede de Integração Verde
Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara-CEFEP
Oxfam Brasil
Movimento SOS Chapada dos Veadeiros
Memorial das Ligas e Lutas Camponesas - MLLC
Rede de Agroecologia do Maranhão
Articulação Agro é Fogo
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Instituto Terramar
Associação de Pescadores e pescadores Artesanal de Cameta (APAMUC)
Rede Cerrado
Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA)
Observatório da Questão Agrária no Paraná (OQA/PR)
Gegate - Grupo de Estudos de Geografia Agrária e Território
Conselho Nacional de igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
International Rivers
Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares
Instituto Territórios e Justiça
Coletivo Evas Negras
ARPA - Associação Ribeirense de Produtores de AlhoAssociação Brasileira de Juristas pela Democracia - ABJD
Fórum Maranhense de Segurança Alimentar e Nutricional
Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais
Centro Popular de Formação da Juventude - Vida e Juventude