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Cartilha


A tarefa dos nove Grupos de
Trabalho que negociam os termos da ALCA

E o que há por trás das palavras

1)Serviços:educação,saúde,...
“ Estabelecer matérias para liberalizar progressivamente o comércio
em serviços, visando o avanço de uma área de livre comércio no Hemisfério em condições de certeza e transparência e desenvolver uma estrutura incluindo direitos e obrigações abrangentes em serviços”. Quer dizer, os acordos relativos a serviços limitariam a ação dos governos em todas as políticas públicas e facilitariam o acesso das empresas multinacionais a todos os serviços públicos.

2)Investimento:
“Estabelecer uma estrutura legal justa e transparente visando incentivar o investimento por meio da criação de um ambiente estável e previsível que proteja o investidor, seus investimentos e movimentos afins, sem criar obstáculos aos investimentos provenientes do exterior do Hemisfério”. Significa que as condições sobre investimento concederão novos poderes às empresas do Hemisfério, permitindo-lhes contestar todos os regulamentos e atividades do governo e destruindo gradualmente a capacidade de todos os governos de proporcionarem previdência social e proteção à saúde de seus cidadãos.

3)Contratos públicos do governo
“Aumentar o acesso aos mercados de contratos públicos nos países da
ALCA”. Pretende-se com isso, abrir todos os contratos, serviços e bens públicos a licitações competitivas de empresas de outros países da ALCA.

4)Acesso ao mercado
Pretende-se eliminar todas as tarifas (impostos aplicados nas fronteiras) e obstáculos “não tarifários” e combinar o ritmo da redução das tarifas. Um obstáculo “não tarifário” pode ser uma norma de defesa do meio ambiente, por exemplo, ou de defesa da saúde dos cidadãos.

5)Agricultura
A tarefa do grupo de negociação para a agricultura determina eliminar os subsídios de exportação dos produtos agrícolas que afetam o comércio do hemisfério. E também disciplinar práticas agrícolas que desvirtuem o comércio e garantir que não se utilizem “ medidas sanitárias ou fitosanitárias” – medidas contra os transgênicos, p.ex. – porque seriam uma restrição disfarçada ao comércio.

6)Direitos da propriedade intelectual:
“Reduzir deturpações existentes no comércio do Hemisfério e fomentar e garantir a proteção adequada e eficaz dos direitos de propriedade intelectual”. Entre os direitos de propriedade intelectual estão o patenteamento de plantas, animais e sementes. Os acordos privilegiam os direitos privados das empresas em relação aos direitos das comunidades locais, à sua herança genética e aos medicamentos tradicionais.

7)Subsídios,antidumping e direitos de compensação
“ Examinar maneiras de aprofundar as matérias existentes estabelecidas
no Acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre subsídios e
Medidas de Compensação e conseguir um entendimento comum com a intenção de aperfeiçoar, onde possível, as normas e procedimentos referentes ao funcionamento e aplicação das leis do recurso, visando não criar obstáculos injustificados ao comércio do Hemisfério”. O Acordo da OMC estabelece limites quanto ao que os governos podem ou não subsidiar. Ele tem sido fortemente
criticado pelos países pobres por favorecer os países ricos, principalmente no comércio de produtos agrícolas. Outra área favorecida pela OMC é a da indústria de armamentos, dominada pelos EUA.

8)Política de competição
“Garantir que os benefícios do processo de liberalização da ALCA não
sejam prejudicados por práticas comerciais anti-competitivas”. Na prática, os Estados latino-americanos deveriam dissolver seus monopólios ainda existentes (Petrobras, por exemplo), conceder às empresas multinacionais o direito de entrar no país, destruir as companhias nacionais e estabelecer um novo monopólio, agora privado e protegido pela nova legislação.

9)Resolução de disputas
“Fundar um mecanismo justo, transparente e eficaz para a resolução de
disputas entre os países da ALCA e criar maneiras de facilitar e fomentar a utilização da arbitragem e outros mecanismos alternativos de solução das disputas, para resolver controvérsias particulares na estrutura da ALCA”. É esse juizado que decidiria se a prática ou política de um país é um “ obstáculo para o comércio”. Feito isso, anularia a prática ou política se ela for considerada agressora. Um país que atuar em favor dos seus próprios interesses empresariais poderá anular leis, políticas e programas internos de outro país. Leis dos países latino-americanos sobre saúde, relações de trabalho, previdência social,
segurança dos alimentos, povos indígenas, meio ambiente e muitas outras, poderão ser derrubadas nas disputas.


É importante frisar que todas estas negociações são sigilosas, concentradas exclusivamente nas mãos dos Poderes Executivos dos diversos países e sob forte pressão, vigilância, “assessoria” e lobby das grandes empresas norte-americanas. A ALCA está sendo forjada segundo o modelo de compromisso único, ou seja, nada será acordado até que tudo esteja acordado.

A atuação dos Legislativos só é prevista no momento de ratificação do
pacto por inteiro, em 2005 ou, talvez, já em 2003. Somente o legislativo norte-americano tem papel central nas negociações, sendo que ele é quem dá o rumo do que o governo pode ou não negociar, sempre no interesse das grandes empresas norte-americanas.

Leia mais:

I. O que é a proposta da ALCA
    - A tarefa dos nove Grupos de Trabalho que negociam os termos     da ALCA
    - 11 de Setembro, “fast track” e ALCA

II. O contexto histórico e geopolítico
    - A) Para compreender o que é Livre Comércio
    - B) Entender os EUA - para entender a ALCA
    - C) Estratégia geral dos Estados Unidos
    - D) A estratégia dos EUA para as Américas
    - E) A estratégia dos EUA e a ALCA

III. ALCA - O que pode acontecer aos povos latino-americanos
    - A) ALCA - Beneficiar poucos e prejudicar muitos
    - B) Significado para Governos e Empresas
    - C) Conseqüências da ALCA

IV. Luta continental contra a ALCA

V. O Plebiscito sobre a ALCA no Brasil

VI. Datas e eventos fundamentais da Campanha Nacional

VII. Datas e eventos fundamentais da Campanha Continental

VIII. Uma outra América é possível

IX. Bibliografia

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